segunda-feira, 15 de novembro de 2010

V Festival Se Rasgum - Belém(PA) - 13 e 14 de Novembro

A 5ª edição do Festival Se Rasgum passou. Foram três dias em que a música pediu passagem na capital paraense para mostrar tendências, revisitar o antigo e vestir novas roupagens. A bandeira da diversidade – essa palavra tão perigosa – que é carregada pelo evento, funcionou mais que atrapalhou e a produção continuou na espiral de crescimento dos últimos anos. E os shows? Bom, por conta de alguns fatores, estes tiveram uma boa dose de surpresa embutida na conta.
Sábado – 13 de novembro
Não fui ao primeiro dia (12) no Hangar que reuniu The Hell’s Kitchen Project (MG), Dona Onete (PA), Felipe Cordeiro (PA) e André Abumjamra (SP). A pequena saga começava então no sábado (14) por volta das 20:00hs. Programado para começar nesse horário, o festival teve quase duas horas de atraso por conta de uma chuvarada que desceu dos céus sem muito aviso. Foi muita água, o que atrapalhou não somente os últimos shows como a chegada do público, que mesmo assim respondeu bem.
O Dharma Burns mandou bem no seu powerpop melódico de músicas como “Day By Day” e “Shining Stars” e foi sucedido pelo também local Mostarda na Lagarta, que sinceramente não entendo como passou pelas seletivas, deixando bandas melhores de fora. Na sequência o carioca Lê Almeida não conseguiu fazer o seu som empolgar. Seu indie rock com roupagem lo-fi teve poucos bons momentos como “Letícia Cristina” e a cover de “Loretta’s Scars” do Pavement, deixando para o Soatá no palco principal a tarefa de ser a primeira banda a realmente empolgar parte do público.
O primeiro grande show do festival, no entanto, viria a seguir. O Cabruêra com sua misturada de cirandas e repentes trouxe o público para dentro do jogo e com o vocalista Arthur Pessoa comandando a brincadeira, divertiu bem. O Graforréia Xilarmônica sucedeu os paraibanos no palco secundário e mesmo com a corda quebrada da guitarra de Carlo Pianta logo no início, fez um show para se guardar. Cantar a plenos pulmões músicas como “Empregada”, “Rancho” e “Amigo Punk” tem um sabor especial.
Depois seria a vez do Odair José que acompanhado dos mineiros do Dead Lover’s Twisted Heart (que ano passado passaram sem empolgar no festival) trazia uma certa desconfiança no ar. Foi surpreendente. Com seu violão em punhos e uma cozinha funcional, o compositor goiano despejou músicas como “Deixa Essa Vergonha de Lado”, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” e “Cadê Você”, que a grande maioria cantou junto. Ainda teve até bis sozinho com “Foi Tudo Culpa do Amor”. Bonito que só.
Nelsinho Rodrigues, um colecionador de sucessos do brega local veio na sequência e fez dançar, sendo bastante elogiado por isso. Mas convenhamos, se ele não fizesse dançar, ia fazer o quê? Nada demais. O Cidadão Instigado, uma das maiores expectativas pessoais, fez um show bom, com “Escolher Pra Quê?” e “Homem Velho” se sobressaindo, além de um Fernando Catatau inspirado, mas que não conseguiu empolgar. Era 4 e pouco da manhã e o cansaço já não permitia esperar os próximos shows, inclusive o do Otto que acabou sua apresentação quase às 7 da matina. Fica para outro dia.
Domingo – 14 de novembro
No terceiro dia o tempo abriu, a lua saiu e as expectativas de uma noite melhor se acenderam. Mesmo com mais um atraso no começo, o Projeto Secreto Macacos abriu os serviços com um grande show no palco secundário. O instrumental do grupo tem muito peso nas guitarras de Yuri Pinheiro e Jacob Franco e flerta muito bem com a psicodelia. Altamente recomendável. O Paris Rock na sequência foi bem decepcionante. Esperava muito mais do grupo que tem um EP legal lançado esse ano.
O paraense Bruno B.O veio com discurso, boas guitarras e improviso para fazer mais um bom show, conseguindo melhor resultado quando caminhou pelo terreno explorado nos anos 90 por Planet Hemp e Pavilhão 9. Mas o melhor show do festival estava por vir. Os veteranos do Deliquentes subiram no palco principal para uma apresentação histórica. Jayme Katarro comandou um show para a memória, daqueles de deixar a gente ainda meio desnorteado quando tudo acaba. Simplesmente irrepreensível.
O Graveola e o Lixo Polifônico mesmo repleto de boas intenções, não conseguiu fazer o show deslanchar e o Emicida teve como ponto alto do show as intervenções bem sacadas do DJ Nyack que engatava samplers que iam de AC/DC a Cartola. No palco menor foi a vez de Pio Lobato subir e mesmo sendo visível não estar tão a vontade na frente da sua apresentação foi engraçado, tocou com a habitual categoria e contou com participações especialíssimas de Iva Rothe, Juliana Sinimbú e Sammliz. Bacana que só.
Outra das grandes expectativas do festival era o Dado Villa-Lobos tocando com o Los Porongas. O show foi agradável, funcionou muito bem nas primeiras cinco músicas e caiu depois, só retornando com o final de “Tempo Perdido”. Nada contra os acreanos dos quais gosto bastante, mas teve muito Los Porongas para pouco Dado. A noite chegava ao fim e o outro grande show do festival se anunciava. O Madame Saatan foi poderoso e irretocável, fazendo o espaço interno do African literalmente tremer. Fodaço.
Ainda teria The Slackers e Dubalizer, mas o cansaço cobrou a conta outra vez e o festival ficou ali por volta das três da manhã. Na 5ª edição, o Se Rasgum dosou bem suas idéias, inclusive no que diz respeito a tão propagada sustentabilidade, na qual deu passos largos e caminhou mais ainda na busca pela excelência de produção, corroborada pela estupenda idéia do espaço laboratório ser vinculado ao site Música Paraense. No entanto, os shows, a matéria prima principal, tiveram a menor carga de grandes apresentações de todas as edições.
Segue abaixo um Top 5 dos melhores shows dessa edição:
1 - Deliquentes
2 - Madame Saatan
3 - Odair José e Dead Lover’s Twisted Heart
4 - Graforréia Xilarmônica
5 - Projeto Secreto Macacos
Obs: Fotos pelo próprio evento aqui: http://www.flickr.com/serasgum

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