quinta-feira, 16 de junho de 2011

"Inverno da Alma" - 2011


Imagine ter 17 anos e cuidar de dois irmãos mais novos (um de 12 e outro de 6 anos), além da mãe que padece sem falar nada por conta de problemas mentais. Some a isso a quase que completa falta de dinheiro em uma cidade pequena do estado do Missouri nos USA. Uma cidade que não ostenta chances ou oportunidades para a maior parte da população. Esse pode ser um rascunho rápido da vida da jovem Ree Dolly, protagonista do filme “Inverno da Alma”.

O longa que recebeu 4 indicações para o Oscar desse ano (filme, atriz, ator coadjuvante e roteiro adaptado) agora está disponível em DVD por aqui. Com uma direção inspirada de Debra Granik, “Inverno da Alma” é daqueles filmes que causam desconforto no telespectador e ficam pairando por horas na cabeça. A determinação com que Jennifer Lawrence interpreta Ree Dolly impressiona, ainda mais quando leva-se em consideração o pesado roteiro.

Enfurnada no meio desse fim de mundo (como tantas outras cidades espalhadas mundo afora), a vida da jovem ganha contornos mais drásticos ainda quando um policial chega e diz que se o pai libertado em condicional não aparecer no julgamento, a família perderá a casa e a propriedade, uma vez que ele penhorou tudo para ser liberado sob fiança. Com a vida se despedaçando fora do controle, a jornada em que ela se mete necessita de extrema coragem.

O clima de “Inverno da Alma” é soturno e se apresenta carregado de desesperança e frieza. A fotografia e direção de arte conseguem espelhar isso muito bem, que somadas a trilha sonora elaborada por Dickon Hinchliffe contribui para que esse clima se espalhe por quase toda a película. Mesmo nos raríssimos momentos de alegria, o tom é de alívio apenas e nunca de satisfação. Uma notícia boa quase sempre é acompanhada por outra nem tão desejável assim.

Em cima de tantas vidas ordinárias que esperam sem pressa a hora em que finalmente tudo terá fim é que Debra Granik monta um filme denso e poderoso. Para Ree Dolly as opções são tão poucas que cabem em poucos dedos de uma mão. A interpretação vigorosa de Jennifer Lawrence caminhando no meio de um mundo desprovido de nobreza e compaixão deixa a impressão de que parece que a humanidade consegue regredir sempre que assim lhe é permitido.

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